O consultor global

jose-galamba-de-oliveiraA propósito da comemoração dos vinte anos da Accenture, conversámos com José Galamba de Oliveira, o seu presidente, sobre consultadoria, países emergentes, educação e federalismo. Entre outros temas. Ora leia

José Galamba de Oliveira, licenciou-se em Engenharia Mecânica na Universidade de Manchester, em Inglaterra, em 1984, e frequentou cursos de pós-graduação na Universidade Católica e no INSEAD. Começou a trabalhar como engenheiro num fabricante português da indústria automóvel.

 Em 1996 assumiu o cargo de Partner na Accenture, com responsabilidade em diversos clientes nacionais e internacionais. Desde Setembro de 2005 é o Presidente do Conselho da Administração da Accenture Portugal.

 Anteriormente, foi Vice-Presidente da Accenture e responsável pela divisão de Serviços Financeiros em Portugal, exercendo também funções executivas em diversas áreas, nomeadamente Marketing, Recursos Humanos e Finance.

Há 20 anos a Accenture dava os primeiros passos em Portugal. Consegue identificar três pontos-chave para o sucesso da companhia?

Diria que há vários pontos que foram chave para chegarmos onde chegámos hoje. O primeiro, e talvez o mais importante, o compromisso com o cliente. Ao longo destes vinte anos tivemos a capacidade de entender as necessidades dos clientes, perceber os desafios de modernização que enfrentavam e termos tido sempre respostas inovadoras e capazes. Criamos equipas que se envolveram sempre com os clientes. Este foi um dos factores determinantes. Outro ponto, foi termos conseguido contratar os melhores talentos, inclusive alguns que já estavam no mercado. Estas pessoas estavam muito motivadas e, também importante, Portugal deu, nessa década, saltos qualitativos bastante grandes que ajudavam à motivação. Terceiro ponto também determinante: a rede internacional foi muito importante pois serviu sempre para que não tivéssemos a necessidade de inventar a roda. Ou seja, os projectos nacionais beberam, sempre que o bom senso aconselhava, do conhecimento que a nossa rede já tinha adquirido.

A década de 90 foi, sem dúvida, de crescimento e, poderemos dizer, de algum atrevimento. Como vê o inicio do século XXI e nomeadamente os momentos actuais?

 No inicio dos anos 2000 , notámos que a economia portuguesa acalmou bastante, e os desafios começaram a ser diferentes, nomeadamente a necessidade de internacionalização e de competitividade das empresas. Paralelamente, também foi uma década em que o outsourcing cresceu e nós capitalizamos precisamente isso.

A motivação dos colaboradores em épocas tão distintas também se faz de forma diferente…

 Sim, é inevitável, embora lhe possa dizer que as carreiras, dentro da Accenture se façam sempre de uma forma sustentada. Obviamente que, dependendo do ciclo económico, há careiras que se fazem mais rapidamente e outras menos. Mas estamos dentro da media interna.

O outsourcing é uma área que tem crescido nos últimos anos. Foi essencialmente durante a última década?

 Em Portugal, o outsoucing apareceu de uma forma determinada na última década e, em particular, nos últimos cinco anos.

Actualmente, quanto é que representa o outsourcing para a Accenture?

 É ligeiramente superior a 40% da facturação, quando há cinco anos não era mais do que 20%.

E tem tendência para aumentar? Ainda há espaço?

 Ainda tem algum espaço mas não com os mesmos índices de crescimento.

Como é que vê o estado da economia portuguesa e a actual crise?

 Esta crise que vivemos é mais profunda e mais séria do que as anteriores, essencialmente porque temos muitos problemas estruturais para resolver. Vamos viver tempos de grande esforço, consumindo menos, produzindo mais, cortando custos desnecessários.

Mas está apreensivo? Como é que se pode motivar um país? É que os problemas estruturais existem há muitos anos e foram poucos os que enfrentaram o problema….

 Basicamente, a situação não é muito diferente das famílias que vão vivendo a crédito, através de empréstimos bancários. O problema coloca-se quando os bancos dizem que não há mais dinheiro e que é necessário começar a pagar as dividas. Foi a esta situação a que chegámos.

Quais são os sectores de actividade em que se deve apostar para nos tornarmos mais competitivos? Em tempos de crise, fala-se sempre do turismo….

Valerá sempre apostar no turismo, em particular pelos factores diferenciadores que temos no país. Porém, não podemos julgar que é o turismo que nos vai salvar ou tornar mais competitivos. Diria que a indústria ligada aos “nearshore” pode ser muito interessante e competitiva, em particular pelo nosso posicionamento estratégico. Também as novas áreas relacionadas com a energia podem ser bastante interessantes para o país.

O americano Paul Krugman, Nobel da Economia, escreveu que Portugal deveria cortar cerca de 30% dos salários…. Isto seria uma medida racional?

A minha opinião é que não faz sentido algum…. Academicamente é compreensível, pois se utilizarmos os números macro económicos poderemos chegar à conclusão de que seria uma das formas de combater o deficit. Não é social nem eticamente aceitável e, mais uma vez, estar-se-ia apenas a cortar custos e não a criar receitas…! Seria inaceitável.

Olhando para o futuro, quais são as expectativas da companhia, tanto em Portugal como em Angola?

Em Portugal, queremos ser uma empresa líder, nas áreas que trabalhamos, que desenvolvemos, que inovamos. Pensamos que podemos ser um parceiro muito interessante para o país, através das empresas, e julgamos que poderemos ajudar ao crescimento. Angola tem sido uma experiência muito interessante para a Accenture e queremos sustentar todas as nossas operações no país. E por isso mesmo, por esta experiência estar a resultar bem, estamos a avaliar a hipótese de avançarmos para Moçambique, que também está com uma rota de crescimentomuito estável.

Qual vai ser o papel da Europa nestes tempos conturbados e inquietantes?

Alguma coisa terá de mudar. Os poderes, que hoje estão descentralizados nos países, provavelmente deverão ser centralizados numa Federação, ou algo parecido. Isto se acreditarmos que o Euro é a nossa moeda única e que o queremos defender. Não é sustentável ter o passado recente: os países com uma moeda única e com politicas orçamentais, fiscais e sociais completamente diferentes.

 

Artigos relacionados
Comentários