Mais um passo para lado nenhum

munchauO plano de austeridade, exigido pela UE e FMI e entretanto já aprovado no dia 12 de Fevereiro pelo parlamento grego, não parece ter conduzido a Grécia a bom porto, lamenta um editorialista.

Uma série de revoltas e actos de violência seguiram-se à aprovação do novo plano de austeridade, deixando o país ainda mais miserável.

Panos Panagiotopoulos, que escreve para o jornal grego To Ethnos, considera que não há dúvida de que a Grécia deve permanecer na zona euro. “Qualquer outra hipótese seria uma tragédia. O facto de alguns compararem as dificuldades da sociedade actual com as de uma falência não controlada é uma questão de superficialidade política. Uma política séria seria uma política que, além das opções partidárias, tivesse também em conta ligeiras diferenças”, referiu.

Para Panos Panagiotopoulos a questão não é se a Grécia deverá ficar dentro ou fora da zona euro mas “para além da severidade inadmissível, o novo plano de austeridade que nos é imposto pelos credores, com tudo o que comporta de bem e de mal, poderá fazer-nos sair da crise ou será o caminho mais curto para a falência não controlada?”, questiona-se.

Panos Panagiotopoulos considera que estes planos não têm viabilidade social, e por isso mesmo, não estabilizam nem relançam a economia, tendo apenas efeitos nefastos.

“”Furam-se pneus”, com uma leviandade incrível, ao mesmo tempo que se garante que, desse modo, o veículo andará mais depressa em 2012 ou em 2013. O pior é que, quando se faz notar isso àqueles que conduziram o nosso país para este beco sem saída, eles respondem: “Então, apresentem-nos uma solução alternativa.” Como se a que eles propõem fosse uma solução viável e séria”, reclama Panos Panagiotopoulos. Passados dois anos, diz o editorialista, continua a não haver um plano realista de saída da crise.

Para Wolfgang Münchau, na sua coluna de segunda-feira do Financial Times, a solução parece mais simples: deixar Portugal e a Grécia falirem. O mesmo critica asperamente a “ignorância e arrogância” dos decisores políticos da Europa ao entrarem no “quinto ano de recessão”. Assim, depois de o parlamento grego ter aprovado os cortes de 3,3 mil milhões de euros para poder receber um segundo empréstimo no valor de 130 mil milhões, Münchau afirma: “Vai haver um período de acalmia mas, daqui a uns meses, tornar-se-á claro que os cortes nos salários e nas pensões, na Grécia, agravarão a depressão. Os políticos europeus também descobrirão que num ambiente tão desolador até mesmo um pequeno objectivo para privatizações será irrealista. O PIB grego caiu 6% em 2011 e, este ano, continua a desacelerar a igual ritmo. E em breve será necessário outro acordo com os credores privados.

Há quem defenda que seria melhor obrigar a Grécia a sair já da zona euro e usar os fundos para salvar Portugal. Discordo. Penso que é muito melhor reconhecermos o desolado estado em que ambos os países se encontram, deixá-los falir dentro da união monetária, e então, usar um fundo de resgate aumentado para os ajudar a reconstruírem-se e, ao mesmo tempo, criar um muro de protecção que abranja os outros todos. […] Vai ser muito caro. Mas ignorar a realidade durante mais dois anos será ruinoso.”

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