Inovação na gestão do risco de crédito

por Pedro Curto AXESOR Portugal

No universo do risco empresarial, o risco de crédito comercial, ao qual podemos associar o risco de cobrança, insere-se na tipologia de riscos financeiros que são parte integrante da gestão.
O crédito comercial é um importante instrumento numa economia de mercado, estando presente em todas as fases da cadeia de valor e é largamente superior ao crédito bancário de curto prazo.
Do ponto de vista do comprador, o financiamento por via de crédito de fornecedores é um importante instrumento para a estabilidade dos níveis de liquidez e flexibilidade operacional. Do ponto de vista do vendedor, a capacidade de concessão de crédito é também um factor competitivo, especialmente importante em sectores ou contextos altamente concorrenciais: quanto mais eficaz for o processo de estabelecimento de condições de crédito comercial adaptadas ao negócio em questão, maior a probabilidade de se atingir todo o potencial da procura.
Ou seja, uma boa gestão do risco de crédito visa não só reduzir e controlar o prazo médio de recebimento e o nível de incumprimento da carteira, mas também potenciar as vendas em conformidade com uma política de crédito previamente definida. Como com qualquer outra categoria de risco, é importante também que essa política esteja alinhada com a estratégia da organização, através dos factores que determinam a atitude desta e dos seus stakeholders perante o risco, nomeadamente o apetite, a tolerância e o limiar de risco.
Dito isto, e num contexto em que a mudança e a volatilidade são factores com forte impacto nas decisões e estratégias empresariais, torna-se imprescindível que as organizações escolham soluções especializadas na gestão do risco de crédito, consistentes e adaptáveis a esta realidade, adoptando as melhores práticas nesta disciplina.
Independentemente de se optar complementarmente por mecanismos de trans-
ferência de risco de crédito, ou por soluções externas especializadas em determinadas fases do ciclo de crédito, é reconhecida a importância de um sistema interno de gestão do risco de crédito, para permitir acomodar as características e especificidades do negócio e da organização.
Os factores inovadores na gestão do risco de crédito estão maioritariamente presentes num modelo de gestão do risco por antecipação, com maior investimento nas fases de análise, aprovação e acompanhamento, já que os modelos de gestão do risco por recuperação são mais limitados por natureza e incorporam custos mais elevados. E é exactamente aí, na fase de análise e, em particular, na construção do modelo preditivo de risco, que hoje se pode tirar maior proveito da elevada capacidade computacional e de tratamento e análise de grandes volumes de informação.
Aqui estamos então perante um cenário, real, onde se aplicam várias disciplinas que se sobrepõem e se complementam e integram o chamado Data Science (como a estatística, o machine learning, a inteligência artificial), alimentadas por um ambiente de Big Data.
Não queria deixar passar esta oportunidade de demonstrar a utilização prática de algumas das tendências mais faladas do momento e que, neste caso, possibilitam a construção de um modelo de risco calibrado e adaptado à especificidade de cada negócio, alimentado por informação pública sobre os clientes (financeira, incumprimentos, registo comercial) e de informação comportamental de pagamentos positiva, negativa e de atrasos, praticamente em tempo real (constituindo o tal ambiente de Big Data).
Por fim, convém destacar também que um dos objectivos na adopção de um sistema avançado de gestão de risco de crédito passa por libertar os recursos internos para se dedicarem exclusivamente a acrescentar valor, por via da componente humana na análise de risco, nos casos em que tal se justifique, e em conformidade com as regras definidas na política de crédito (com recurso, por exemplo, a informação adicional subjectiva ou confidencial), e na participação no processo de ajuste e evolução das políticas de crédito perante a redefinição de objectivos estratégicos.

Artigo publicado na revista Risco n.º 6 de Outono de 2017.

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