Empresas portuguesas em processo de digitalização

O mundo digital não está no futuro. É aquele em já vivemos há alguns anos, embora as empresas portuguesas ainda estejam a debater-se com o processo de digitalização. Esta foi uma das principais conclusões da IX Conferência Executive Digest, num misto de maior ou menor optimismo face à evolução.

Responsáveis de algumas das principais empresas do País estiveram presentes no evento, realizado no Dom Pedro Palace Hotel esta manhã, para debater o tema “Os negócios e a economia num mundo digital”. A ideia mais consensual foi a de que, cada vez mais, as empresas têm de caminhar para uma lógica de lifestyle e não sectorial. A título de exemplo, a norte-americana Tesla ficou conhecida por produzir automóveis eléctricos mas conseguiu expandir a sua área de negócio de modo a chegar a casa dos consumidores através de baterias de energia solar. A Uber, a Airbnb e a Amazon também foram exemplos referidos por Pedro Lopes, managing director da Accenture Digital, keynote speaker da conferência.

O consumidor quer que as empresas façam magia, continua o mesmo responsável, lembrando que, por isso, a experiência tem de ser cada vez mais personalizada e com sugestões inteligentes integradas. De um paradigma de transacção, é necessário passar para um paradigma de relação visando a fidelização de clientes.

Caso isso não aconteça, e as empresas não sejam capazes de digitalizar as suas operações, produtos e serviços, apenas 60% conseguirá sobreviver, segundo dados apontados por Alexandre Barbosa, managing partner e fundador da Farbes Ventures. Na mesa redonda da conferência da Executive Digest, o responsável afirmou também que «Portugal e digital não são mutuamente exclusivos», mesmo que o caminho ainda esteja a ser percorrido.

Já Rui Negrões Soares, director central da Caixa Geral de Depósitos, admite que, sendo a banca uma área mais conservadora – forma encontrada para assegurar a confiança dos seus clientes –, é natural que a digitalização seja mais lenta. Rui Negrões Soares garantiu, contudo, que os bancos já começaram a reagir ao novo paradigma.

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A EDP, por seu turno, parece estar a todo o vapor. José Ferrari Careto, administrador da energética, assinalou quatro áreas em que o digital tem impacto na EDP: oferta (cada vez mais abrangente), serviços (criação de apps móveis), processos (eliminação do papel nas operações) e modelos de negócio. De um ponto de vista hipotético, a presença digital de empresas como a EDP mas também das restantes presentes na conferência poderia existir de forma integrada, de acordo com Miguel Almeida, director executivo da Cisco. A tecnologia existe, depende apenas da identidade de cada marca e da sua vontade em estabelecer parcerias.

Para tornar tudo isto possível são precisas pessoas. Mesmo que o tema em questão seja o mundo digital e o modo como pode alterar os negócios, a verdade é que as pessoas continuam a ter um papel vital. José Miguel Leonardo, CEO da Randstad, lembrou que os principais vectores que preocupam a empresa de recursos humanos incluem a desmaterialização, como é o caso da Uber, a escassez, seja relativamente aos perfis de profissionais adequados ou à legislação adequada, e a automação através dos robôs.

Online vs Offline

No caso de empresas que tenham presença tanto no digital como fisicamente, a solução deverá passar pela integração e não pela réplica, garante Pedro Santos, E-commerce Operations director da Sonae MC. O que se pretende – e o que o cliente quer – não é uma experiência diferente em cada um dos canais da empresa mas sim uma experiência integrada nos diferentes canais.

Pedro Santos avançou ainda que são poucos os clientes do Continente que compram exclusivamente no digital, pelo que as lojas físicas continuam a ser fundamentais. Os produtos frescos, por exemplo, são muito difíceis de implementar nas compras online porque os consumidores querem escolher o que têm em casa, embora a Sonae MC esteja a conseguir fazê-lo com os argumentos e confiança da marca e serviço. O mesmo responsável vê a questão da personalização de forma diferente dos restantes oradores, tendo afirmado que o que importa são as experiências relevantes e não as personalizadas.

Texto de Filipa Almeida

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