Empresas negligenciam políticas anti-corrupção

A pressão para que as empresas cresçam e aumentem as receitas está a colocar em causa as oportunidades de expansão internacional e ainda a incentivar os executivos a adoptar comportamentos considerados de risco. Fraude e corrupção são dois dos maiores problemas do mercado, de acordo com o estudo Europe, Middle East, India and Africa (EMEIA) Fraud Survey, Fraud and Corruption – the easy option for growth, da consultora EY.

Em Portugal, 82% dos entrevistados reconhece que as práticas de corrupção estão generalizadas no mercado português, valores acima da média global. Relativamente ao desempenho financeiro reportado pelas empresas, 61% dos entrevistados diz acreditar que as mesmas indicam valores mais elevados do que os reais, contra 37% dos inquiridos, a nível global, provenientes de mercados de crescimento rápido.

Portugal ocupa o quinto lugar no ranking de países cujos entrevistados responderam que as práticas de corrupção eram disseminadas de forma generalizada, ficando à frente da Índia ou Grécia. Exemplo disso são os 35% de inquiridos que consideram justificável a oferta de presentes pessoais, dinheiro ou entretenimento, se for necessário à sobrevivência do negócio.

Pedro Cunha, responsável em Portugal pela linha de serviço da EY – Fraud Investigation & Dispute Services (FIDS), afirma que «as práticas compliance, anti-corrupção e suborno em Portugal não são ainda uma prioridade para as empresas» e que as mesmas ainda não perceberam a mais-valia inerente aos sistemas de regulação.

«O entendimento do mercado tem que acompanhar os avanços da legislação e regulação portuguesa nestas matérias, não só replicando as obrigações legais mas integrando integralmente as políticas de ética e conformidade na rotina diária das empresas», conclui.

Apesar do risco de fraude e corrupção ser especialmente comum nos países de crescimento rápido, a verdade é que não é exclusivo desses mercados. De acordo com os dados do estudo da EY, 26% dos gestores de topo entrevistados referem ter ouvido falar em antecipação de lucros no ano transacto, sendo que esta é uma das principais práticas na origem de fraude.

Ainda assim, os mercados em crescimento são, de facto, os que têm maior probabilidade de não cumprir com todas as regras e requisitos legais. Isto justifica-se com a ideia de que aplicar políticas anti-corrupção irá impedir os negócios de crescer já que 20% dos colaboradores inquiridos revelou esta preocupação.

A pesquisa revela, aliás, que 42% dos entrevistados refere que a sua empresa não tem uma política deste género ou, então, que a desconhece e ainda que 36% dos entrevistados nunca teve formação anti-suborno/anti-corrupção. Estes dados demonstram, de acordo com o estudo, que muitas empresas ainda não dispõem de uma estratégia de compliance.

Quanto ao sector que melhores resultados mostrou no que diz respeito a compliance, destaca-se o de serviços financeiros que parece preocupado também com o comportamento dos seus colaboradores. Ainda assim, essa preocupação pode não ser visível ao nível de criação de políticas anti-corrupção/anti-suborno ou de uma linha de ética.

Para a realização deste estudo, foram entrevistados 3800 colaboradores de empresas de 38 países.

Artigos relacionados
Comentários