Chicotadas Psicológicas

Para uma empresa que subitamente se vê acossada pelos mercados por uma sucessão de actos que resultam numa quebra dos seus resultados, o efeito é normalmente a saída das suas chefias. Mas raramente esta mudança de lugares de topo melhora a situação da empresa, económica ou financeiramente.

Se o barco tem um rombo no casco por má decisão do timoneiro, mudá-lo não o repara, chegar a bom porto sim.

Mas é isto que acontece nas administrações das empresas, com os treinadores de futebol ou com os Governos.

Para além de eventuais questões morais de “castigar” quem supostamente nos colocou nesta situação, trata-se de restaurar a confiança. Porque a confiança é um dos activos mais importantes que cada um tem para desempenhar o lugar que ocupa. Quando se perde é dificilmente recuperável.

Mudar de CEO não reparou a plataforma da BP no Golfo do México, mas resolveu-lhe um problema de relações públicas. Mudar a administração do BCP não lhe resolveu algumas questões complicadas, mas deu-lhe força e confiança para encontrar soluções. Mudar de treinador não resolve a debilidade estrutural de uma equipa, mas pode dar-lhe uma nova atitude para ultrapassar as suas fraquezas. A Grécia e a Irlanda não melhoraram a sua situação financeira por terem mudado de Governo. Foi apenas uma tentativa de aparecer de cara lavada e restaurar a confiança. São as chamadas “chicotadas psicológicas”. Goste-se ou não, justas ou injustas, elas acontecem.

A recuperação de uma empresa ou de um clube raramente é feito com as “caras antigas”. São sempre caras novas a liderar o caminho, que até podia ser o mesmo se os antigos se mantivessem, ou não. É uma questão de confiança. A palavra-chave de qualquer líder, que o diga Mourinho.

E restaurar a confiança nos Homens ou nas Instituições demora tempo. E tempo é um luxo para quem está em dificuldades.

POR PAULO CARMONA

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