Accenture Digital Business: Reformular a revolução

Por Ellyn Shook e Mark Knickrehm

Estarão as organizações prontas para competir à medida que a tecnologia inteligente se junta ao talento humano para criar a força de trabalho do futuro?

 A tecnologia inteligente está a revolucionar todos os aspectos da nossa vida. As empresas pioneiras estão a usar com sucesso a inteligência artificial (IA) para melhorarem a produtividade. Mas para obterem taxas de crescimento superiores, e para criarem novas vagas de emprego, os líderes devem aplicar a IA de formas mais inovadoras.

Uma aliança entre os humanos e as máquinas irá assinalar o início de uma nova era de trabalho e estimular vantagens competitivas. A promessa da IA depende de humanos e máquinas a trabalharem juntos para desenvolverem experiências de cliente diferenciadas e para criarem produtos, serviços e mercados totalmente novos. É esta a verdadeira oportunidade da IA.

A Accenture estima que esta colaboração possa aumentar as receitas das empresas em 38% nos próximos cinco anos e criar níveis mais altos de rentabilidade e emprego. Para terem sucesso, os líderes precisam de reformular a natureza do trabalho actual. Tomar medidas arrojadas significa redefinir os papéis das pessoas, capacitar a força de trabalho para novos modelos de negócio e aumentando a escala das “novas competências” para aproveitar tecnologias inteligentes. Significa fazer coisas que não se podiam fazer anteriormente. Começando agora.

Estarão as organizações prontas para aproveitar esta oportunidade em 2018? O objectivo deste relatório elaborado pela Accenture é definir o panorama e dotar os líderes para que questionem as empresas e a sua preparação para o sucesso na era da IA.

UM FUTURO DE PROMESSAS

Os negócios estão à beira de um admirável mundo novo criado pela IA.

Uma revolução onde a tecnologia inteligente se junta ao talento humano para criar uma força de trabalho do futuro, que promete fontes anteriormente inalcançáveis de crescimento e inovação.

Até agora, os robôs, o big data e outras tecnologias têm sido usados para trabalhar em paralelo com as pessoas, mas num isolamento automatizado. O seu papel é melhorar as eficiências dos processos. Agora que as empresas investem em sistemas de IA que conseguem detectar, comunicar, interpretar e aprender, tudo isso mudou.

IA pode ajudar os negócios a irem para lá da automatização e a elevarem as capacidades humanas com o intuito de desbloquear novo valor.

Actualmente, muitos negócios têm ainda de aplicar a IA  desta forma para melhorarem a eficiência ou os resultados dos clientes. Estão na primeira das três etapas da adopção: educação. Na maioria dos casos, as empresas chegam à segunda fase: protótipos e iniciativas experimentais. Poucas são as que estão na  terceira fase: aplicação em grande escala. Estão a praticar aquilo a que a Accenture chama de Inteligência Aplicada, ou seja, a capacidade de implementar tecnologia e engenho humano em todas as partes do seu core business de forma a resolver desafios complexos, entrar em novos mercados ou criar fontes de receitas totalmente novas.

As perspectivas de crescimento da revolução da IA não estão limitadas a resultados tão imediatos. Aprendendo com a história, o lançamento do Ford Model T não se limitou a substituir o trabalho dependente de cavalos por empregos na produção, deu origem a uma era de mobilidade pessoal que sustentou o crescimento económico do século XX ao abrir caminho para novas indústrias e mercados. Da mesma forma, a IA terá um impacto exponencial. Mas a velocidade da revolução digital não tem precedentes. Segundo a Gartner, o Deep Learning e o Machine Learning, duas tecnologias emergentes de IA, chegarão à adopção generalizada daqui a dois a cinco anos. Se as empresas querem beneficiar das vantagens destes desenvolvimentos, terão de agir imediatamente.

INVESTIR PARA ESTIMULAR

Como investimentos mais altos em IA podem estimular as receitas e o emprego por sector, de 2018 a 2022.

A Accenture calcula que se as empresas investirem na IA e na colaboração homem-máquina na mesma proporção que as empresas de alto desempenho como os negócios de topo, podem potenciar as suas receitas em 38% entre 2018 e 2022 (até 50% nos sectores de bens de consumo e saúde) e estimular os lucros globais num total de 3,8 milhões de milhões de euros em 2022. Para uma empresa S&P500, isto equivale a 6 mil milhões de euros de receitas e um aumento de 710 milhões de euros na rentabilidade. Podem também aumentar o emprego em 10%.

O PODER DA IA

A IA oferece conhecimentos que permitem aos humanos tomarem decisões informadas.

O poder da nova relação entre pessoas e tecnologia inteligente é cada vez mais claro. Por exemplo, uma equipa de patologistas de Harvard criou uma técnica baseada na IA para identificar células de cancro de mama com maior precisão. Os patologistas ultrapassam as máquinas com uma precisão de 96% em comparação com 92%. Mas a maior surpresa deu-se quando humanos e IA juntaram forças, identificando com precisão 99,5% das biopsias cancerígenas. Com quase 1,7 milhões de casos novos de cancro de mama diagnosticados globalmente todos os anos, isto traduz-se em mais 68 mil a 130 mil mulheres a receberem diagnósticos precisos do que se dependêssemos apenas de humanos ou máquinas.

Este tipo de sucesso depende de as pessoas interagirem continuamente com a IA, neste caso, treinando e voltando a treiná-la para identificar o tipo certo de células cancerígenas para que o seu desempenho melhore. À medida que este tipo de sistema se torna mais inteligente, oferecerá proactivamente conhecimentos que farão com que os médicos façam análises mais informadas e ofereçam tratamentos mais específicos.

O ESTUDO GLOBAL

Será que os líderes empresariais e os colaboradores estão prontos para uma colaboração entre humanos e máquinas com este nível de sofisticação e a uma grande escala?

Para descobrir, a Accenture Research falou com mais de 1200 CEO e executivos de topo que trabalham com IA. Também inquiriu mais de 14 mil colaboradores de quatro gerações diferentes e representando todos os níveis de competências. A pesquisa abrangeu 12 sectores e 11 economias e incluiu entrevistas com pessoas que trabalham diariamente com IA. Entre as descobertas:

Três quartos (74%) dos executivos afirmam que tencionam usar a IA para automatizar tarefas a uma grande escala ou muito grande nos próximos três anos. Mas quase todos (97%) notam que tencionam usar a IA para melhorar as capacidades dos colaboradores. Reflectindo a   intenção de ir além da fase de protótipo da era industrializada da aplicação de IA, visualizam a criação de novas fontes de valor ao possibilitarem a colaboração entre pessoas e máquinas inteligentes. E os investimentos em IA estão a crescer. O investimento global em sistemas cognitivos e de IA terá aumentado 59,1% em 2017 em comparação com 2016, chegando aos 9,6 mil milhões de euros, segundo a IDC, e em 2021 chegará aos 46,2 mil milhões.

Estes números demonstram um panorama positivo, mas os líderes de negócios sentem dificuldade em ligar este compromisso a acções que transformem a sua força de trabalho:  embora quase metade dos líderes de negócios inquiridos identifique a falta de competências como o principal desafio da força de trabalho, apenas 3% afirma que a sua organização tenciona aumentar significativamente o investimento em programas de formação nos próximos três anos. Este baixo nível de empenho irá diminuir radicalmente a sua capacidade para usar IA em grande escala.

UM OBSTÁCULO

Os empregadores subestimam a disponibilidade dos colaboradores para adquirirem as competências relevantes.

Em média, calculam que apenas cerca de um quarto (26%) da sua força de trabalho esteja preparada para a adopção da IA. Quase um em cada quatro indica a resistência da força de trabalho como o principal obstáculo. Contudo, como a nossa pesquisa revelou, 68% dos colaboradores altamente qualificados e quase metade (48%) dos seus pares com menos qualificações sentem-se positivos em relação ao impacto da IA no seu trabalho. Ao todo, 67% dos colaboradores considera importante desenvolver as suas próprias competências para trabalharem com máquinas inteligentes. Os millennials apoiam fortemente este ponto de vista (75%), mas até 56% dos baby boomers o fazem. Os colaboradores querem abraçar a IA.

O QUE É MUITAS VEZES IGNORADO

Os colaboradores são também consumidores. Já ditam listas de compras à Alexa e pedem à Siri sugestões de restaurantes.

Esperam serviços personalizados entregues pela IA. Por isso, no emprego, porque não esperariam que as máquinas inteligentes os informassem continuamente e descobrissem proactivamente novas informações que os ajudem a melhorar a vida dos clientes? Os líderes devem aproveitar esta oportunidade: os seus colaboradores não querem apenas competências novas. Querem crescer numa empresa inteligente que consegue mudar mercados e melhorar a experiência de trabalho.

Como podem os líderes empresariais elevar a sua força de trabalho de forma a criar mais valor através da colaboração entre humanos e máquinas? A nossa pesquisa aponta para três acções:

  1. Re-imaginar o trabalho, do planeamento da força de trabalho para o planeamento do trabalho;
  2. Preparar as equipas de trabalho, para áreas que criem novas formas de valor;
  3. Aumentar o “New Skilling”, para trabalhar com máquinas inteligentes.

RE-IMAGINAR O TRABALHO

Do planeamento da força de trabalho para o planeamento do trabalho. As previsões sobre o impacto da IA no emprego variam. Em Janeiro de 2018, o Fórum Económico Mundial, em colaboração com a Accenture, publicou estudos que revelam uma perda líquida de empresas mais pequena do que a prevista por outras análises. Mas um enfoque nas perdas e ganhos de empregos falha um ponto crucial: o impacto mais significativo da IA não será no número de empregos, mas no conteúdo dos empregos. Quase metade dos inquiridos (46%) afirmou que as descrições tradicionais dos empregos estão obsoletas à medida que as pessoas passam para um trabalho baseado em projectos. Como a IA está a elevar os colaboradores de forma a acrescentarem mais valor.

Não deve assim surpreender ninguém que 61% dos executivos seniores afirme que a proporção de cargos exigindo que as pessoas colaborem com a IA aumente nos próximos três anos. Não implica apenas a questão de a IA melhorar as capacidades humanas, mas também de os humanos melhorarem o desempenho das tecnologias inteligentes. Talvez seja por esse motivo que 63% dos executivos inquiridos espera que a IA crie mais empregos na sua organização nos próximos três anos.

  • ACÇÕES PARA RECONFIGURAR O TRABALHO

Enquanto pouco mais de metade dos empregadores reconhece que obter a colaboração certa entre humanos e máquinas é fundamental para atingirem os seus objectivos, poucos adoptaram uma abordagem sistemática para desbloquear o valor existente no cruzamento de pessoas e máquinas inteligentes. O princípio é passar o destaque dos empregos para a natureza do trabalho em si antes de capacitar os colaboradores com as competências  necessárias. Na altura de reconfigurar o trabalho, as organizações precisam de implementar três medidas:

  1. Avaliar tarefas e competências. Primeiro, as empresas precisam de identificar os novos tipos de tarefas que devem ser levadas a cabo.

Ao avaliarem o conjunto de tecnologias e equipas à disposição, as organizações podem então distribuir estas tarefas a pessoas ou máquinas. Essa distribuição exige uma observação constante. Afinal de contas, muitos sistemas de IA não são totalmente autónomos e exigem monitorização e ajustes consideráveis por parte dos humanos.

  1. Criar novos cargos. As empresas precisam de criar novos cargos dentro de uma mudança contextual mais abrangente, à medida que a IA faz com que as pessoas aceitem trabalho com mais valor. Os trabalhos operacionais serão mais estratégicos e apoiados por dados, enquanto os cargos mais específicos exigirão múltiplas competências. Os cargos tornar-se-ão também mais especializados à medida que volumes maiores de dados precisos criam mais perspectivas a serem exploradas.
  2. Ligar as competências aos novos cargos. Assim que uma empresa obtém uma lista completa das tarefas e competências exigidas e dos cargos recém-definidos, pode ligar essa lista às competências existentes na força de trabalho.

Onde existem lacunas nas competências, as empresas devem decidir se querem rapidamente formar os colaboradores actuais ou procurar novas fontes de talento. Na pesquisa levada a cabo pela Accenture, descobriu-se que algumas empresas abordam as lacunas nas competências com colaboradores contratados temporariamente. Outras conseguiram alinhar as competências da força de trabalho existente com as novas exigências.

Estudo publicado na Revista Executive Digest nº 143 de Fevereiro de 2018.

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