A Venezuela aqui tão perto…

Assusta ter o Governo condicionado por demagogos, economicamente cegos ou incompetentes pelo perigo que representa ter a sua sobrevivência dependente de fazer vontades a quem levaria a uma situação venezuelana.

Por Paulo Carmona

Quando se ouvem as preocupações e exigências dos partidos que apoiam o actual Governo não podemos deixar de ficar assustados. E quase parece um leilão sobre quem teve a ideia e quem propõe a medida mais amiga dos trabalhadores. Vejamos a questão da extensão das 35 horas semanais de trabalho ao sector privado. Ao princípio vemos que é de elementar justiça. Os do sector público já o conseguiram com este Governo, então porque os do privado o não terão? Já bastam regalias que os trabalhadores da função pública possuem, com saliência na ADSE, salários e na quase impossibilidade de despedimento, por exemplo por falência da entidade empregadora, para agora acumularem mais uma… e alargarmos mais o fosso entre trabalhadores de primeira e de segunda. O mal foi na origem. Baixar de 40 para 35 horas semanais na função pública? Porquê? Acaso já baixámos as listas de espera nos hospitais? Os alunos estão com cada vez melhor notas e podem ter turmas maiores? A eficiência nos serviços e na qualidade do serviço prestado está a um tão bom nível que podemos ter menos gente no atendimento. Desculpem, mas não é isso que se vê. O Governo, sempre agradável, baixou as horas de trabalho, porque a austeridade orçamental não o deixava aumentar salários. Dá com uma mão e tira com a outra. E agora vem dizer que prefere contratar a aumentar. Claro que prefere, tem de contratar, se não os serviços vão abaixo. Com pessoal a fazer menos horas é matemático que haverá falta de pessoal, contrata-se.

E agora estende-se ao privado. Já mencionámos a justiça da medida. Agora vejamos os argumentos. Diz o PCP que ao reduzir de 40 para 35 se criam mais 440.000 empregos. Compreende-se. Pela lógica de que se uma fábrica com 100 pessoas tem de produzir 500 pares de sapatos, trabalhando menos horas para produzir mais sapatos teremos de ter mais pessoas. E todas com salários dignos. Que bom! Eu continuaria o raciocínio e exigiria já 25 horas semanais. Assim criaríamos 1.320.000 postos de trabalho, e tempo para a família, lazer e gastar o salário digno. Acabava-se o desemprego e as questões sociais. Se os patrões boicotassem e fossem à falência o Estado intervencionava através dos bancos, falidos e nacionalizados, com dinheiro que não tinha. Os nossos parceiros convidavam-nos a sair do euro para estarmos melhor sozinhos nessas experiências e nós, agora com moeda própria, podíamos emitir o dinheiro que quiséssemos para pagar mais tanta gente menos produtiva. Haveria inflação, um mal menor, mas actualizaríamos os salários de acordo com a taxa. Como? Imprimindo mais dinheiro… até que os nossos fornecedores estrangeiros começassem a não aceitar os nossos rolinhos de papel e desconfiar que era… apenas papel. E num instante seríamos uma nova Venezuela. Com exactamente as mesmas medidas, começaram assim com Chavez. Hoje não têm dinheiro para comprar papel para fabricar as notas… ou pelo menos dinheiro que os estrangeiros desconfiados aceitem.

Este artigo foi publicado na edição de Maio de 2018 da revista Executive Digest.

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