A mais velha profissão do mundo…

Embora poucas vezes lhe seja reconhecido o mérito e nunca se lhe gabe a utilidade e natureza de serviço público, a mais velha profissão do mundo já vai vendo tempo de ser reconhecida como categoria profissional autónoma com direito a descontos e assistência médica! De beira de estrada, por assim dizer, ou ao mais alto nível, muitos se rendem aos favores que este tipo de “serviço” oferece, porque afinal, desde que este mundo é mundo, o Bode Expiatório sempre existiu!

Pôr as culpas nos outros é praticamente um fenómeno cultural, passado de geração em geração, preservado e enriquecido durante séculos até aos dias de hoje, onde atingiu o seu expoente máximo na sociedade contemporânea!

Toda a empresa, entidade, instituição ou Governo que se preze tem em carteira, real ou potencial, um leque de Bodes Expiatórios quase tão grande como o de colaboradores, dado que aqui não se levantam problemas no que respeita às incompatibilidades ou à acumulação de funções!

A beleza desta “actividade” é que qualquer um pode ser Bode Expiatório. Não é necessária nenhuma vocação especial ou sequer habilitação literária, além de que tem a grande vantagem de ter colocação garantida e nunca ser demais (não tem numerus clausus). O Bode Expiatório limita-se a ser! A ser culpado pelos erros dos outros, a ser incompetente no lugar dos que, substituindo-o, “não dão conta do recado”, a ser responsabilizado por obrigações que não assumiu… enfim, o Bode Expiatório desempenha um sem número de valências sem ser pago para isso (não confundir o Bode Expiatório com o seu primo por afinidade, dado também pertencer à família dos caprinos, mas que se distingue pelo apego à corrupção) e sem que lhe seja dado, acima de tudo, o merecido mérito. Não deixa de ser um fenómeno curioso este da incompetência póstuma, da crucificação de quem não está presente para se defender e afins . É um bocado como o prodígio do conjugue perfeito, que depois de morto vira santo/a, mas que em vida era uma cruz (a morte tem destes mistérios!). Só que aqui é ao contrário!

E por isso devia haver regras, a criação dum sindicato ou duma ordem profissional. Porque há coisas que deviam ser esclarecidas, como a data de validade do Bode Expiatório (sim, até quando pode alguém continuar a ser culpado) ou a aceitabilidade da mobilidade de funções (um financeiro a ser culpado por um erro de engenharia tem que se lhe diga).

Culpar os outros pelos erros próprios é assim como que uma generosa e desprendida demonstração de falta de carácter, de espinha dorsal e de valores, que aparentemente se encontra muito em voga. Mais em voga ainda é o daí decorrente e tradicional “emprenharpelos ouvidos” pelas chefias, patrões, colegas e demais, que se escusam a apurar as verdadeiras culpas.

É claro que os colaboradores erram e infelizmente nem sempre assumem os seus erros, mas errar é próprio de ser-se humano.

Quem não erra das duas uma: ou é Deus ou não faz nada! Deus faz milagres e, convenhamos, se todos os que supostamente erram tivessem realmente errado só restavam os bons em todas as empresas, entidades, instituições e Governos… então porque é que estamos nesta miséria?

Por Isolda Brasil

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